quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em defesa das Offshore


Fiquei triste com a iniciativa do portal www.maisdemocracia.org.br, especialmente com a campanha "Quem são os proprietários do Brasil", que eles está patrocinando.

A Referida campanha quer, entre outras coisas, publicar o nome dos empresá
rios que controlam as maiores empresas do país, e fazer um mapa das conexões políticas destes empresários.

Embora possa parecer uma boa ideia, na verdade não é. Esses dados já são, em maioria públicos. Os dados que não são públicos permanecem assim porque a lei não exige que eles sejam públicos.

Então, o que a campanha pretende fazer é uma caça às bruxas, em que os grandes empresários do país seráo taxados de vilões e inimigos da pátria.

E depois? Eu apostaria que o movimento se filiará a ideologias estatizantes e buscará a desapropriação da riqueza dos empresários. Logo em seguida, buscará a desapropriação da minha riqueza, da sua, de todos.

Claro que esta é uma extrapolação muito hiperbólica, além de ser somente minha opinião. Não conheço bem a ONG e não posso dizer quais são os seus reais objetivos, muito menos acusá-la de nada.

Mas por que eles estão patrocinando esse teatro?


Artigo: "Quem são os proprietários do Brasil?". Por Carlos Tautz

A revelação de que “Eike tem 72,5% do patrimônio nos EUA” (O Estado de S. Paulo, 14/10) mostra muito mais do que a estratégia usada pelo homem mais rico para pagar menos impo
stos – no caso, de seis de suas maiores empresas.

O fato revela a ponta de um iceberg financeiro de nossos tempos: nós, a sociedade, não sabemos quem de fato são os proprietários últimos dos maiores conglomerados atuantes no Brasil.

Por serem tão grandes, por empreenderem projetos em territórios cada vez maiores (e ali chegarem a mudar a institucionalidade local), por lidarem, regra geral, com recursos naturais tão vitais para nossa sobrevivência, e por receberem massiva quantidade de dinheiro público – sob as mais variadas formas –, são esses proprietários, e não a maioria dos congressistas, nem juízes, nem ministros, que acabam definindo os rumos do País.

Nas listas de maiores e melhores conglomerados brasileiros, publicados com pompa anualmente pela imprensa de negócios, estão lá, quase sempre, as mesmas corporações: Petrobras, Vale, Gerdau, etc., medidas pelo seu faturamento.

Porém se alterarmos o critério de cálculo e passarmos a considerar as participações acionárias cruzadas, teremos outros resultados. E, provavelmente, descobriremos siglas, e eventualmente, nomes de pessoas físicas desconhecidas da sociedade em geral e, até da vetusta imprensa de negócios.

O Estadão pesquisou a razão dessa estratégia de invisibilidade: “O objetivo mais latente da criação das empresas offshore é buscar um cenário mais positivo em termos de benefícios fiscais relacionados ao Imposto de Renda e à Contribuição Social Sobre o Lucro", explica o especialista em direito tributário Paulo Sigaud, da Aidar SBZ Advogados.

Essa deve ser mesmo uma das principais razões. Mas, provavelmente, há outras mais importantes.

Esconder a propriedade de uma corporação ora em empresas de capital fechado, ora em companhias abertas, e às vezes em ambas, passando por subsidiárias, controladas, joint ventures, empresas de propósito específico e outros tipos de organização comercial é uma estratégia bem montada para escapar da responsabilidade civil e criminal de seus controladores finais.

Se não é claro quem é o responsável legal pela empresa, como imputá-lo?

Como traçar os beneficiários verdadeiros de subsídios, financiamentos, renúncias fiscais, isenções e, inclusive, de doações de propriedade pública, se não sabemos a quem cobrar?

Precisamos descobrir quem são os reais proprietários do Brasil.

Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia - Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

2 comentários:

  1. Como o próprio artigo cita, as ponderações sobre a não declaração dos proprietários das Offshores, trata-se de "uma extrapolação muito hiperbólica".

    Todas as empresas que hoje praticam comércio exterior, desde que participem do ambiente RADAR, tem sua história devassada, consequentemente, de seus proprietários e sócios também.

    Partindo desta premissa, e levando em consideração, que existe uma gama muito grande de empresas offshores que prestam serviços de importação, e o objetivo principal desta prestação e serviço é o repasse de ganhos de incentivos fiscais, nada mais justo, que seus sócios sejam conhecidos.

    A "blindagem" não existe ao empresariado em geral, já que os dados das empresas são público, e como acima citado, o ambiente RADAR dá ao agente fiscal a condição de consulta a extratos bancários e outros documentos que nem mesmo o próprio empresario, na maioria da vezes, consegue ter acesso com facilidade.

    Portanto, não seria justo tratar os iguais desigualmente, na melhor linha de pensamento de Aires Brito:

    “A verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”.

    No jargão popular, quem não deve não deveria temer.

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    1. Caro Leitor,

      A meu ver, existem maneiras de o dono real de uma holding manter-se em sigilo.

      Isso envolve a criação de várias camadas de empresas intermediárias, uso de trusts, etc. Mesmo o RADAR e a Receita Federal não teriam facilidade (ou possibilidade) de quebrar esse sigilo.

      E isso não é mau. Todos temos direito a sigilo. Muitas pessoas retiram o número de telefone da lista telefônica, por exemplo. Isso não significa que "temam", que sejam criminosas ou nada do tipo.

      O que pretendo demonstrar é que a busca pelas pessoas físicas que são donas de investimentos no Brasil é meramente ideológica, como se tais pessoas ao invés de empresários respeitáveis fosse ladrões.

      Desde que as holdings não estejam sendo usadas para fraudes ou para fugir, de modo ilegal, da tributação, não há problema nenhum.

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