quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

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19 de janeiro de 2012
Autor: Ricardo Galuppo - Convidado

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Ricardo Galuppo

Por mais que se fale sobre a China, sempre existe algo novo para se dizer – e a impressão que se tem diante dos movimentos do gigante é a da impossibilidade de conter sua voracidade.

O apetite da potência oriental pela ampliação de sua presença no mundo parece não ter limites e não existe lugar onde suas empresas já não tenham fincado bandeira.

Com planejamento e disciplina, as companhias aprenderam com uma velocidade espantosa as regras de sobrevivência no mercado ocidental e hoje não há país em que não atuem.

Agora, conforme reportagem nesta edição do Brasil Econômico, a China manifesta seu interesse na América Latina e já se apresenta como alternativa a países que até muito pouco tempo atrás tinham apenas o Brasil como parceiro comercial.

Eis o ponto. Se o Brasil não se preparar para um jogo comercial que promete ser duro, não haverá laços históricos nem interesses ancestrais que manterão sua posição de liderança no comércio regional.

Se alguma providência não for tomada – e com urgência -, o conforto que ainda existe nas relações do Brasil com os países do Mercosul e com os vizinhos que não integram o bloco logo desaparecerá.

A questão é muito mais séria do que parece. Nos últimos anos, a China tem ampliado seus negócios com o Brasil de tal forma que, em 2009 (ano em que a economia mundial entrou em colapso), tem sido a grande responsável por manter a situação sob controle. Suas importações de minério de ferro e de soja cresceram naquele ano e o Brasil, num cenário nebuloso para todos os vizinhos, acabou não sofrendo tanto.

Isso deixou (e ainda deixa) o país numa posição dúbia quando o tema é seu relacionamento comercial com Pequim.

De um lado, a China é o parceiro que, no momento de dificuldade, ampliou seus negócios e impediu que o Brasil sofresse os mesmos problemas que outros países exportadores enfrentaram quando os Estados Unidos e a Europa perderam o fôlego.

Do outro, a China é o concorrente imbatível e nem sempre leal que, de uma hora para outra, colocou em risco a indústria têxtil, a indústria de confecções, a indústria siderúrgica – e agora começa a ameaçar as montadoras de automóveis, as construtoras e muito mais. Qual das duas Chinas prevalecerá nas relações com o Brasil daqui por diante?

Até aqui, todos os movimentos do governo brasileiro têm indicado que a segunda China (ou seja, a que manda dinheiro para o Brasil em troca de commodities) tem merecido a preferência de Brasília.

Para satisfazê-la, o país inclusive fechou os olhos para a competição nem sempre leal que a agressividade exportadora da China submeteu os concorrentes brasileiros. Agora, no entanto, o gigante começa a perder o fôlego.

Este ano, o crescimento chinês deverá ficar um pouco abaixo dos 8%. É um número portentoso, sobretudo num cenário em que a maior parte do mundo enfrenta um cenário recessivo que tem resistido a uma série de medidas.

A preocupação está no fato de que a China, no ano passado, cresceu na casa dos 9% – contra expansões sempre superiores a 10% nos anos anteriores.

Nesse caso, o Brasil nem terá mais os benefícios de uma parceria comercial sempre em expansão, tampouco terá uma indústria capaz de resistir aos manufaturados chineses nos principais mercados do mundo.

Fonte: Brasil Econômico, 18/01/2012

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