sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Por que eles investem no Brasil, se importar é tão barato?



Sabedoria chinesa: Ataque-os onde dói mais e saiba que o Real não será forte para sempre.  


Tem dias em que é gratificante ler o Wall Street Journal.

Foi bom ver uma notícia sobre a Liugong e sobre seus planos para uma futura fábrica no Brasil.

Melhor ainda foi perceber que a notícia destaca que a Liugong está competindo, nos Estados Unidos, com a poderosa Caterpillar.

Os emergentes competem com o primeiro mundo

Eu adoro ver os indianos e chineses competindo com o Mittelstand alemão ou com as marcas consagradas da Europa.

Eu adoro ver jatos da Embraer voando pelo mundo. Eu adoro ver carros coreanos virando líderes de mercado nos Estados Unidos.


Ah, você não conhece a Liugong?

Essa é uma empresa que tenho o prazer de dizer que conheço, pois advogo para eles aqui no Brasil. É uma indústria chinesa de máquinas pesadas que está ganhando participação no mercado mundial.

Ela montou uma rede de distribuição internacional que, devo dizer, foi estruturada de forma bastante elegante sob o ponto de vista jurídico.
  
Por que eles investem no Brasil, se importar é tão barato?

A Liugong a exemplo da Motorola¸ da Foxconn e de várias outras empresas (Sany, BEML, BMW) parece ter reconhecido o que o mundo todo já sabe: a sobrevalorização do Real não vai durar para sempre.

Assim, é melhor começar a construir as fábricas no Brasil agora, pois, quando o dólar voltar a valer R$2,30, importar não será mais uma opção tão boa.

Os atuais donos do mercado de construção podem começar a correr atrás. A invasão chinesa e indiana no mercado promete elevar o nível da competição em termos de preço e qualidade.  

Em nosso país de obras com desperdícios milionários, só pode ser uma boa notícia.

4 comentários:

  1. Prezado Adler està com razão. E quando o dolar estarà a RS 2,5 como fica? E' melhor se preparar agora . Como contribuição ao debate te envio esse linkl de um meu artigo que acaba de sair
    http://www.netcomex.com.br/noticias_interna.php?q=c4ca4238a0b923820dcc509a6f75849b&idn=89fee0513b6668e555959f5dc23238e9
    Cordialmente
    Minervini

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  2. Dr. Adler, vi que o conflito entre a família Odebrecht e a família Gradin pode ser resolvida pelo meio arbritral. Acho esse caso uma boa idéia para um post. Fica a sugestão.

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  3. Acho inteligentíssimo vislumbrar um afã capital-imperialista na china mesmo, tal como já tivemos na Inglaterra e como temos nos EUA (que, assim como a velha rainha dos mares, um dia deixará de ser a maior potência econômica mundial, mas continuará por um bom tempo sendo a maior potência militar, o que decerto tornará a geopolítica mundial deveras interessante...).

    Nesse sentido achei interessante a sua abordagem, pois faz um contraponto ao viés ortodoxo de se entender o investimento estrangeiro no Brasil como estratégia de oportunidade, e não como cálculo expectacional de longo prazo (talvez nem tão longo assim, mas nesse assunto nem me arrisco, pois o mercado de capitais me é ainda muito estranho) - algo mais keynesiano, diria.

    Essa estratégia não ortodoxa (de investimento de capital fixo em outro país num momento de câmbio visivelmente favorável à importação direta), mostra realmente que a nova pretensa potência geo-econômica (China) e suas afiliadas (Índia...) pretendem não só ganhar espaço no mercado, mas ganhar "o" mercado.

    Mas creio que a simples "lógica de valorização do capital" (como diria o velho Marx), alguma audácia irresponsável típica dos países emergentes (quando em emersão) e "A Arte da Guerra" não explicam completamente o fenômeno. O que eu quero dizer é que as categorias analíticas atuais, na minha opinião, não são suficientes para explicar este "capitalismo asiático", até porque nós, ocidentais, estamos um pouco longe de entender a lógica oriental (porque acreditamos até hoje que a aculturação completa do oriente é questão de tempo, e não nunca fizemos um esforço sério para compreendê-la).

    Acho mesmo que esta nova face do capitalismo demandará um pouco mais de tempo pra se mostrar e que pitadas de budismo, senso de honra e kung-Fu serão necessários para que a nova economia política dê conta do recado.


    E pra acabar mesmo, o que vc quis dizer exatamente com "desperdício" na última frase? E boa notícia pra quem?

    Grande abraço!

    Bernardo

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  4. Grande Bernardo,

    Você sempre me surpeendendo.

    Curiosamente, outras pessoas me disseram a mesma coisa que você: que não é só o câmbio. Que a China está vindo para cá por conta de aspectos culturais e estratégicos.

    Isso me fortaleceu a humildade. Quer dizer que ele são ainda mais argutos do que eu, que apontei-lhes a argúcia.

    Abração para meu amigo cultíssimo.

    Abs.

    Adler

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